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<P><B class=chamada>Nome.</B> O nome deste povo na própria língua é <I>Iny</I>,  
[[File:titulo_karaja.gif|right]]
 
Habitantes seculares das margens do rio Araguaia nos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso, os Karajá que vivem hoje distribuídos em aldeias têm uma longa convivência com a Sociedade Nacional o que no entanto, não os impediu em manter costumes tradicionais do grupo como: a língua nativa, as bonecas de cerâmica, as pescarias familiares, os rituais como a Festa de Aruanã e da Casa Grande (Hetohoky), os enfeites plumários, a cestaria e artesanato em madeira e ainda as pinturas corporais, como os característicos dois círculos na face. Ao mesmo tempo, buscam a convivência temporária nas cidades para adquirir meios de reivindicar seus direitos como a demarcação e manutenção de suas terras, o acesso à saúde e educação bilingüe.
 
 
O nome deste povo na própria língua é <I>Iny</I>,  
ou seja, "nós". O nome Karajá não é a auto-denominação original. É um nome tupi  
ou seja, "nós". O nome Karajá não é a auto-denominação original. É um nome tupi  
que se aproxima do significado de "macaco grande". As primeiras fontes do século  
que se aproxima do significado de "macaco grande". As primeiras fontes do século  
XVI e XVII, embora incertas, já apresentavam as grafias "Caraiaúnas" ou "  
XVI e XVII, embora incertas, já apresentavam as grafias "Caraiaúnas" ou "  
Carajaúna". Ehrenreich, em 1888, propôs a grafia Carajahí, mas Krause, em 1908,  
Carajaúna". Ehrenreich, em 1888, propôs a grafia Carajahí, mas Krause, em 1908,  
desfaz as confusões de nomes e consagra a grafia Karajá. </P>
desfaz as confusões de nomes e consagra a grafia Karajá.
<P>
 
<P></P>
 
<P><SPAN class=chamada><B>Língua.</B></SPAN> Segundo o lingüista Aryon dall&#8217;Igna  
 
 
{| border="0" align="right" style="margin-left:1em"
|-----
|
{| border="1" cellspacing="0" cellpadding="2"
|+ <font size="+1>'''Indios Karajá'''</font>
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! bgcolor="#000000" colspan="2" |
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! bgcolor="#c0ffff" colspan="2" | Fatos Rápidos
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! align="left" | Onde Estão
| Goiás, Mato Grosso, Pará e Tocantins
|-----
! align="left" | números atuais
| 2500
|-----
! align="left" | Terras
| [[Parque Indigena do Araguia]]
|-----
! align="left" | Cidade com Reserva
| Aruanã em Goiás
|-----
! align="left" | Contato com civilização branca
| 200 anos
|-----
|}
|}
==Características==
- O povo Iny é o povo das águas.
 
- O rio Araguaia é sua origem e território. Toda vida está ligada ao rio: o mito de criação, rituais de passagem, o alimento e a alegria.
 
- Os dois círculos tatuados nas maçãs do rosto - o omarura - dão identidade ao povo Karajá.
As pinturas em negro e vermelho desenham no corpo as formas da natureza, dos peixes e cobras.
 
- Os adornos em penas rosa, vermelha, azul e branca contam histórias antigas. As cerimônias trazem para o pátio da aldeia os heróis criadores, os ancestrais e os seres mágicos que compartilham com o povo a celebração da vida.
 
==Língua.==
 
Segundo o lingüista Aryon dall&#8217;Igna  
Rodrigues, a família Karajá, pertencente ao tronco lingüístico Macro-Jê, se  
Rodrigues, a família Karajá, pertencente ao tronco lingüístico Macro-Jê, se  
divide em três línguas: Karajá, Javaé e Xambioá. Cada uma delas tem formas  
divide em três línguas: Karajá, Javaé e Xambioá. Cada uma delas tem formas  
Linha 13: Linha 59:
diferenças, todos se entendem. Em algumas aldeias como em Xambioá (TO) e em  
diferenças, todos se entendem. Em algumas aldeias como em Xambioá (TO) e em  
Aruanã (GO), devido ao processo do contato com a sociedade nacional, o português  
Aruanã (GO), devido ao processo do contato com a sociedade nacional, o português  
tem sido dominante. </P>
tem sido dominante.  
<P>No início da década de 1970, a Funai adotou um programa educacional bilíngüe  
 
No início da década de 1970, a FUNAI adotou um programa educacional bilíngüe  
e bicultural para alguns grupos, entre eles, os Karajá. Este programa, sob a  
e bicultural para alguns grupos, entre eles, os Karajá. Este programa, sob a  
orientação do Summer Institute of Linguistics, entidade que tem também objetivos  
orientação do Summer Institute of Linguistics, entidade que tem também objetivos  
religiosos, resultou na tradução da Bíblia na língua Karajá.</P>
religiosos, resultou na tradução da Bíblia na língua Karajá.
<P>
 
<P></P>
==Localização==
<P><SPAN class=chamada><B>Localização.</B></SPAN> Os Karajá têm o rio Araguaia  
[[File:mapaaraguaia.jpg|right| Região Indios Karajá]]
como um eixo de referência mitológica e social. O território do grupo é definido  
 
por uma extensa faixa do vale do rio Araguaia, inclusive a maior ilha fluvial do  
Os Karajá têm o rio Araguaia como um eixo de referência mitológica e social. O território do grupo é definido por uma extensa faixa do vale do rio Araguaia, inclusive a maior ilha fluvial do mundo, a do Bananal, que mede cerca de dois milhões de hectares. Suas 29 aldeias  
mundo, a do Bananal, que mede cerca de dois milhões de hectares. Suas 29 aldeias  
estão preferencialmente próximas aos lagos e afluentes do rio Araguaia e do rio  
estão preferencialmente próximas aos lagos e afluentes do rio Araguaia e do rio  
Javaés, assim como no interior da ilha do Bananal. Cada aldeia estabelece um  
Javaés, assim como no interior da ilha do Bananal. Cada aldeia estabelece um  
território específico de pesca, caça e práticas rituais demarcando internamente  
território específico de pesca, caça e práticas rituais demarcando internamente  
espaços culturais conhecidos por todo o grupo.</P>
espaços culturais conhecidos por todo o grupo.
<P>Isto mostra uma grande mobilidade dos Karajá que apresentam como uma de suas  
 
Isto mostra uma grande mobilidade dos Karajá que apresentam como uma de suas  
feições culturais a exploração dos recursos alimentares do rio Araguaia. Eles  
feições culturais a exploração dos recursos alimentares do rio Araguaia. Eles  
têm, ainda hoje, o costume de acampar com suas famílias em busca de melhores  
têm, ainda hoje, o costume de acampar com suas famílias em busca de melhores  
Linha 36: Linha 83:
chuvas, mudavam-se para as aldeias construídas nos grandes barrancos, a salvo  
chuvas, mudavam-se para as aldeias construídas nos grandes barrancos, a salvo  
das subidas das águas, onde, em alguns lugares, ainda hoje fazem suas roças  
das subidas das águas, onde, em alguns lugares, ainda hoje fazem suas roças  
familiares e coletivas, locais de moradia e cemitérios.</P>
familiares e coletivas, locais de moradia e cemitérios.
<UL type=circle>
Pode-se ter uma idéia dos números populacionais do grupo a partir dos seguintes anos e dados:
  <LI><FONT size=-1>Quanto à situação jurídica das terras do subgrupo Karajá,
 
  podemos relacionar:</FONT>
  <LI><FONT size=-1>Parque Indígena do Araguaia (ilha do Bananal) &#8212; área total
  de 1.358.499 hectares, demarcada, homologada e esperando registro (Funai,
  1998).</FONT>
  <LI><FONT size=-1>Karajá de Aruanã &#8212; Área I (GO) com 11 hectares, Área II (MT)
  com 769 hectares e Área III (GO) com 586 hectares, em processo de demarcação
  (Funai, 1998).</FONT>
  <LI><FONT size=-1>São Domingos, com 5.705 hectares no município de Luciara,
  MT, homologada.</FONT>
  <LI><FONT size=-1>Maramanduba, com 26 hectares, no município de Santana do
  Araguaia, PA, em revisão.</FONT>
  <LI><FONT size=-1>TI Tapirapé/Karajá, MT, homologada.</FONT> </LI></UL>
<P><B class=chamada>Demografia.</B> Pode-se ter uma idéia dos números  
populacionais do grupo a partir dos seguintes anos e dados:</P>
<TABLE height=347 cellSpacing=1 cellPadding=4 width=488 border=1>
<TABLE height=347 cellSpacing=1 cellPadding=4 width=488 border=1>
  <TBODY>
   <TR>
   <TR>
     <TD vAlign=top width="57%" colSpan=4>
     <TD vAlign=top width="57%" colSpan=4>
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       <P><FONT size=2>Toral, 1992: 41</FONT></P>
       <P><FONT size=2>Toral, 1992: 41</FONT></P>
       <P><FONT size=2>ISA, 1996: vii</FONT></P>
       <P><FONT size=2>ISA, 1996: vii</FONT></P>
       <P><FONT size=2>Braggio, 1997 </FONT></P></TD></TR></TBODY></TABLE>
       <P><FONT size=2>Braggio, 1997 </FONT></P></TD></TR></TABLE>
<P>
 
<P></P>
Apesar do contato intenso com a sociedade nacional, tem-se  
<P class=bodytext>Apesar do contato intenso com a sociedade nacional, tem-se  
registrado um aumento populacional dos Karajá, que continuam residindo no  
registrado um aumento populacional dos Karajá, que continuam residindo no  
território tradicional. As aldeias de cada subgrupo estão distribuídas da  
território tradicional. As aldeias de cada subgrupo estão distribuídas da  
seguinte maneira:</P>
seguinte maneira:
<P>O subgrupo Karajá é formado pela comunidade de Aruanã (GO) que tem  
 
O subgrupo Karajá é formado pela comunidade de Aruanã (GO) que tem  
aproximadamente 50 pessoas (dados mais recentes indicam que esta aldeia recebeu  
aproximadamente 50 pessoas (dados mais recentes indicam que esta aldeia recebeu  
mais alguns Karajá motivados pela demarcação da terra, totalizando  
mais alguns Karajá motivados pela demarcação da terra, totalizando  
Linha 135: Linha 167:
São Domingos e também duas aldeias pequenas próximas ao rio Tapirapé, além de  
São Domingos e também duas aldeias pequenas próximas ao rio Tapirapé, além de  
pequenos grupos depois da ponta norte da ilha, totalizando aproximadamente 1.500  
pequenos grupos depois da ponta norte da ilha, totalizando aproximadamente 1.500  
pessoas (Braggio, 1997). </P>
pessoas (Braggio, 1997).
<P>O subgrupo Javaé, nas margens do rio Javáes (braço do Araguaia que contorna a  
 
O subgrupo Javaé, nas margens do rio Javáes (braço do Araguaia que contorna a  
margem oriental da ilha do Bananal) e no interior da ilha, tem por volta de 841  
margem oriental da ilha do Bananal) e no interior da ilha, tem por volta de 841  
pessoas, distribuídas em seis comunidades nos municípios de Formoso do Araguaia,  
pessoas, distribuídas em seis comunidades nos municípios de Formoso do Araguaia,  
Cristalândia e Araguaçu (Braggio, 1997). </P>
Cristalândia e Araguaçu (Braggio, 1997).  
<P>O subgrupo Xambioá tem duas aldeias com 202 indivíduos (Braggio, 1997), no  
 
baixo Araguaia.</P>
O subgrupo Xambioá tem duas aldeias com 202 indivíduos (Braggio, 1997), no  
<P>
baixo Araguaia.
<P></P>
 
<P><SPAN class=chamada><B>História do contato.</B></SPAN> Os estudos históricos  
==História do contato==
informam que os Karajá estiveram em disputa com outros povos indígenas como os  
[[File:caciquewatau.jpg|right|Cacique Watau]]
Kayapó, os Tapirapé, os Xavante, os <A class=chamada
 
href="http://www.socioambiental.org/website/epi/xerente/xerente.htm">Xerente</A>,
Os estudos históricos informam que os Karajá estiveram em disputa com outros povos indígenas como os Kayapó, os Tapirapé, os Xavante, os Avá-Canoeiro e, menos freqüentemente, com os Bororo e Apinayé, no intuito de salvaguardar seu território. Como resultado deste contato, houve a troca de práticas culturais entre os Karajá, os Tapirapé e os Xikrin (Kayapó).
os Avá-Canoeiro e, menos freqüentemente, com os Bororo e Apinayé, no intuito de  
 
salvaguardar seu território. Como resultado deste contato, houve a troca de  
Com relação ao contato com a sociedade nacional, os textos históricos  
práticas culturais entre os Karajá, os Tapirapé e os Xikrin (Kayapó).</P>
<P>Com relação ao contato com a sociedade nacional, os textos históricos  
informam ter havido duas frentes de contato com a sociedade nacional. A primeira  
informam ter havido duas frentes de contato com a sociedade nacional. A primeira  
é representada pela missões jesuítas da Província do Pará, assinalando a  
é representada pela missões jesuítas da Província do Pará, assinalando a  
Linha 170: Linha 201:
Lipkind (1938), do escritor José Mauro de Vasconcelos (década de 60) e dos  
Lipkind (1938), do escritor José Mauro de Vasconcelos (década de 60) e dos  
governadores de Goiás, Henrique Santillo (1988) e do Tocantins, Siqueira Campos  
governadores de Goiás, Henrique Santillo (1988) e do Tocantins, Siqueira Campos  
(1989). O processo de contato permanente dos Karajá com a sociedade nacional fez  
(1989).  
 
O processo de contato permanente dos Karajá com a sociedade nacional fez  
com que eles adotassem bens culturais da sociedade envolvente (alimentação,  
com que eles adotassem bens culturais da sociedade envolvente (alimentação,  
língua, hábitos, ensino, religião entre outros). A complexidade cultural do  
língua, hábitos, ensino, religião entre outros). A complexidade cultural do  
Linha 180: Linha 213:
permanecer viva a sua organização cultural e social, a sua identidade indígena,  
permanecer viva a sua organização cultural e social, a sua identidade indígena,  
sem abrir mão da cidadania brasileira, participando inclusive como vereadores de  
sem abrir mão da cidadania brasileira, participando inclusive como vereadores de  
cidades ribeirinhas.</P>
cidades ribeirinhas.
<P>
 
<P></P>
==Ciclo de vida==
<P><SPAN class=chamada><B>Ciclo de vida.</B></SPAN> O nascimento de uma criança  
O nascimento de uma criança entre os Karajá é marcado socialmente pela regra da tecnonímia, isto é, quando os pais deixam de ser chamados pelos nomes próprios e passam a ser conhecidos  
entre os Karajá é marcado socialmente pela regra da tecnonímia, isto é, quando  
os pais deixam de ser chamados pelos nomes próprios e passam a ser conhecidos  
como o pai ou a mãe de fulano(a). No caso do homem, o novo pai passa para uma  
como o pai ou a mãe de fulano(a). No caso do homem, o novo pai passa para uma  
outra categoria masculina. O homem é tido como o responsável pela fecundação,  
outra categoria masculina. O homem é tido como o responsável pela fecundação,  
sendo necessário copular várias vezes para, de forma gradual, formar a criança  
sendo necessário copular várias vezes para, de forma gradual, formar a criança  
no ventre da mãe, considerada apenas como receptora. Após o nascimento, o  
no ventre da mãe, considerada apenas como receptora. Após o nascimento, o  
recém-nascido é lavado com água morna e pintado de urucum. </P>
recém-nascido é lavado com água morna e pintado de urucum.
<P>Na infância, a criança fica a maior parte do tempo com a mãe e avós.  
 
Na infância, a criança fica a maior parte do tempo com a mãe e avós.  
Entretanto, a diferença entre os gêneros ganha maior proporção quando o menino  
Entretanto, a diferença entre os gêneros ganha maior proporção quando o menino  
chega à idade de sete a oito anos e tem o lábio inferior perfurado com osso de  
chega à idade de sete a oito anos e tem o lábio inferior perfurado com osso de  
Linha 198: Linha 230:
Casa Grande. Eles são pintados com o preto azulado do jenipapo e ficam  
Casa Grande. Eles são pintados com o preto azulado do jenipapo e ficam  
confinados durante sete dias numa casa ritual chamada de Casa Grande. Os cabelos  
confinados durante sete dias numa casa ritual chamada de Casa Grande. Os cabelos  
são cortados e ele é chamado de <I>jyre</I> ou ariranha. </P>
são cortados e ele é chamado de <I>jyre</I> ou ariranha.  
<P>Na primeira menstruação, a moça passa a ser vigiada pela avó materna, ficando  
 
Na primeira menstruação, a moça passa a ser vigiada pela avó materna, ficando  
isolada. A sua aparição pública, quando está bem enfeitada com pinturas  
isolada. A sua aparição pública, quando está bem enfeitada com pinturas  
corporais e enfeites plumários para dançar com os Aruanãs, é muita prestigiada  
corporais e enfeites plumários para dançar com os Aruanãs, é muita prestigiada  
pelos homens.</P>
pelos homens.
<P>O casamento ideal é aquele arranjado pelas avós dos nubentes,  
 
O casamento ideal é aquele arranjado pelas avós dos nubentes,  
preferencialmente da mesma aldeia, quando os jovens estão aptos a ter relações  
preferencialmente da mesma aldeia, quando os jovens estão aptos a ter relações  
sexuais. Porém, o casamento mais comum é a simples ida do rapaz para a casa da  
sexuais. Porém, o casamento mais comum é a simples ida do rapaz para a casa da  
Linha 214: Linha 248:
perdendo o prestígio político na praça dos homens, mas se tornando, em  
perdendo o prestígio político na praça dos homens, mas se tornando, em  
compensação, referência de poder espiritual, normalmente exercendo atividades  
compensação, referência de poder espiritual, normalmente exercendo atividades  
xamanísticas.</P>
xamanísticas.
<P>No enterro Karajá, o morto é colocado com seus pertences numa esteira no  
 
No enterro Karajá, o morto é colocado com seus pertences numa esteira no  
fundo de uma vala; tudo é coberto por varas, lembrando uma casa, na frente do  
fundo de uma vala; tudo é coberto por varas, lembrando uma casa, na frente do  
que se coloca uma espécie de pequeno mastro de madeira enfeitado. Outrora se  
que se coloca uma espécie de pequeno mastro de madeira enfeitado. Outrora se  
fazia também o enterro secundário, hoje não mais realizado, que consistia em  
fazia também o enterro secundário, hoje não mais realizado, que consistia em  
exumar o corpo e colocar os ossos numa vasilha de cerâmica, especialmente  
exumar o corpo e colocar os ossos numa vasilha de cerâmica, especialmente  
preparada pelas parentas do morto.</P>
preparada pelas parentas do morto.
<P>
 
<P></P>
==Homens e mulheres==
<P><SPAN class=chamada><B>Homens e mulheres.</B> </SPAN>Os Karajá estabelecem  
Os Karajá estabelecem uma grande divisão social entre os gêneros definindo socialmente os papéis dos homens e mulheres, previstos nos mitos.
uma grande divisão social entre os gêneros definindo socialmente os papéis dos  
 
homens e mulheres, previstos nos mitos.</P>
Aos homens cabem a defesa do território, a abertura das roças, as pescarias  
<P>Aos homens cabem a defesa do território, a abertura das roças, as pescarias  
familiares ou coletivas, as construções das casas de moradia, as discussões  
familiares ou coletivas, as construções das casas de moradia, as discussões  
políticas formalizadas na Casa de Aruanã ou praça dos homens, a negociação com a  
políticas formalizadas na Casa de Aruanã ou praça dos homens, a negociação com a  
sociedade nacional e a condução das principais atividades rituais, já que eles  
sociedade nacional e a condução das principais atividades rituais, já que eles  
equivalem simbolicamente à importante categoria dos mortos.</P>
equivalem simbolicamente à importante categoria dos mortos.
<P>As mulheres são responsáveis pela educação dos filhos até a idade da  
 
As mulheres são responsáveis pela educação dos filhos até a idade da  
iniciação para os meninos e de modo permanente para as meninas, pelos afazeres  
iniciação para os meninos e de modo permanente para as meninas, pelos afazeres  
domésticos, como cozinhar, colher produtos da roça, pelo cuidado com o casamento  
domésticos, como cozinhar, colher produtos da roça, pelo cuidado com o casamento  
Linha 240: Linha 275:
alimentos das principais festas e pela memória afetiva da aldeia, que é expressa  
alimentos das principais festas e pela memória afetiva da aldeia, que é expressa  
por meio de choros rituais, de modo especial quando alguém fica doente ou  
por meio de choros rituais, de modo especial quando alguém fica doente ou  
morre.</P>
morre.
<P>Os Karajá preferem a monogamia e o divórcio é censurado pelo grupo. Se a  
 
Os Karajá preferem a monogamia e o divórcio é censurado pelo grupo. Se a  
infidelidade do homem casado se torna pública, os parentes masculinos da mulher  
infidelidade do homem casado se torna pública, os parentes masculinos da mulher  
abandonada batem no homem infrator perante toda a aldeia, numa grande ação  
abandonada batem no homem infrator perante toda a aldeia, numa grande ação  
Linha 249: Linha 285:
e com suas unidades domésticas próprias, deixam de receber comentários  
e com suas unidades domésticas próprias, deixam de receber comentários  
reprovadores da comunidade, já que a constituição da família é um referencial  
reprovadores da comunidade, já que a constituição da família é um referencial  
cultural importante para os Karajá.</P>
cultural importante para os Karajá.
<P>
 
<P></P>
==A aldeia==
<P><SPAN class=chamada><B>A aldeia.</B> </SPAN>A aldeia é a unidade básica de  
A aldeia é a unidade básica de organização social e política. O poder de decisão é exercido por membros masculinos das famílias extensas, que discutem suas posições na Casa de Aruanã.  
organização social e política. O poder de decisão é exercido por membros  
masculinos das famílias extensas, que discutem suas posições na Casa de Aruanã.  
Não é raro haver rivalidades entre facções de grupos masculinos em disputa pelo  
Não é raro haver rivalidades entre facções de grupos masculinos em disputa pelo  
poder político da aldeia. Com o contato, um dos homens é eleito "capitão" da  
poder político da aldeia. Com o contato, um dos homens é eleito "capitão" da  
aldeia e é responsável pelos assuntos políticos com os agentes externos, como  
aldeia e é responsável pelos assuntos políticos com os agentes externos, como  
Funai, universidades, ONGs, governos estaduais, entre outros. </P>
Funai, universidades, ONGs, governos estaduais, entre outros.  
<P>Os Karajá têm ainda uma intrigante chefia que, no passado, parece ter tido  
 
Os Karajá têm ainda uma intrigante chefia que, no passado, parece ter tido  
duas funções: a ritual e a social. Uma criança, do sexo masculino ou feminino,  
duas funções: a ritual e a social. Uma criança, do sexo masculino ou feminino,  
era escolhida pelo chefe ritual, dentre aquelas a ele ligadas por linha paterna,  
era escolhida pelo chefe ritual, dentre aquelas a ele ligadas por linha paterna,  
para ser educada como sua sucessora. Tanto o chefe ritual quanto a criança  
para ser educada como sua sucessora. Tanto o chefe ritual quanto a criança  
escolhida ainda hoje recebem as mesmas dominações indígenas de <I>ióló</I> e  
escolhida ainda hoje recebem as mesmas dominações indígenas de <I>ióló</I> e  
<I>deridu</I>.</P>
<I>deridu</I>.
<P>As divergências políticas entre aldeias são também comuns, mas a manutenção  
<P>As divergências políticas entre aldeias são também comuns, mas a manutenção  
de uma solidariedade entre elas, motivada no passado pelas guerras contra outras  
de uma solidariedade entre elas, motivada no passado pelas guerras contra outras  
etnias e, no presente, pela reivindicação de demarcação das terras, desocupação  
etnias e, no presente, pela reivindicação de demarcação das terras, desocupação  
dos posseiros e fazendeiros da ilha do Bananal, é reforçada pelos rituais que  
dos posseiros e fazendeiros da ilha do Bananal, é reforçada pelos rituais que  
incentivam e celebram o encontro entre as aldeias.</P>
incentivam e celebram o encontro entre as aldeias.
<P>
 
<P></P>
==Atividades de subsistência==
<P><SPAN class=chamada><B>Atividades de subsistência.</B></SPAN> A alimentação  
A alimentação da comunidade é habitualmente a ictiofauna do rio Araguaia e dos lagos. Apreciam  
da comunidade é habitualmente a ictiofauna do rio Araguaia e dos lagos. Apreciam  
alguns mamíferos e demostram especial predileção na captura de araras, jaburus e  
alguns mamíferos e demostram especial predileção na captura de araras, jaburus e  
colhereiros para enfeites plumários.</P>
colhereiros para enfeites plumários.
<P>As roças são feitas nas matas-galeria, com a prática da coivara. Os registros  
 
As roças são feitas nas matas-galeria, com a prática da coivara. Os registros  
etnográficos e históricos citam o cultivo do milho, da mandioca, da batata, da  
etnográficos e históricos citam o cultivo do milho, da mandioca, da batata, da  
banana, da melancia, do cará, do amendoim e do feijão. Com as facilidades da  
banana, da melancia, do cará, do amendoim e do feijão. Com as facilidades da  
Linha 282: Linha 317:
Eles aproveitam também os frutos do cerrado, como o oiti e o pequi, e a coleta  
Eles aproveitam também os frutos do cerrado, como o oiti e o pequi, e a coleta  
do mel silvestre. Às vezes, capturam reses criadas à solta na ilha do Bananal  
do mel silvestre. Às vezes, capturam reses criadas à solta na ilha do Bananal  
para o consumo da carne, que não é apreciada pelos mais velhos.</P>
para o consumo da carne, que não é apreciada pelos mais velhos.
<P>
 
<P></P>
==Arte e cultura material==
<P><SPAN class=chamada><B>Arte e cultura material.</B> </SPAN>A cultura material  
[[File:pintura_karaja.jpg|right| Pintura Facial Karaja]]
Karajá envolve técnicas de construção de casas, tecelagem de algodão, adornos  
 
plumários, artefatos de palha, madeira, minerais, concha, cabaça, córtex de  
A cultura material Karajá envolve técnicas de construção de casas, tecelagem de algodão, adornos plumários, artefatos de palha, madeira, minerais, concha, cabaça, córtex de  
árvores e cerâmica.</P>
árvores e cerâmica.
<P>A pintura corporal é significativa para o grupo. Na puberdade, os jovens de  
 
A pintura corporal é significativa para o grupo. Na puberdade, os jovens de  
ambos os sexos submetiam-se à aplicação do <I>omarura</I>, dois círculos  
ambos os sexos submetiam-se à aplicação do <I>omarura</I>, dois círculos  
tatuados nas faces onde a mistura da tinta do jenipapo com a fuligem do carvão  
tatuados nas faces onde a mistura da tinta do jenipapo com a fuligem do carvão  
Linha 300: Linha 336:
listas e faixas pretas nas pernas e nos braços. As mãos, os pés e as faces  
listas e faixas pretas nas pernas e nos braços. As mãos, os pés e as faces  
recebem pequeno número de padrões representativos da natureza, de modo especial,  
recebem pequeno número de padrões representativos da natureza, de modo especial,  
a fauna (Fénelon Costa, 1968).</P>
a fauna (Fénelon Costa, 1968).
<P>A cestaria, feita tanto pelos homens como pelas mulheres, apresenta motivos  
 
A cestaria, feita tanto pelos homens como pelas mulheres, apresenta motivos  
trançados com o aspecto de gregas e inspirados na fauna, como partes do corpo  
trançados com o aspecto de gregas e inspirados na fauna, como partes do corpo  
dos animais. (Taveira, 1982).</P>
dos animais. (Taveira, 1982).
<P>A arte cerâmica é exclusiva das mulheres, apresentando os mais variados tipos  
 
A arte cerâmica é exclusiva das mulheres, apresentando os mais variados tipos  
e motivos, desde utensílios domésticos, como potes e pratos, até bonecas com  
e motivos, desde utensílios domésticos, como potes e pratos, até bonecas com  
temas mitológicos, rituais, da vida cotidiana e da fauna. </P>
temas mitológicos, rituais, da vida cotidiana e da fauna.
<P>Motivo de grande interesse dos turistas que visitam as aldeias Karajá, de  
 
Motivo de grande interesse dos turistas que visitam as aldeias Karajá, de  
modo especial nas temporadas da praias do rio Araguaia (junho, agosto e  
modo especial nas temporadas da praias do rio Araguaia (junho, agosto e  
setembro), as bonecas Karajá tornaram-se mais um meio de subsistência do grupo.  
setembro), as bonecas Karajá tornaram-se mais um meio de subsistência do grupo.  
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ceramistas mais novas que inclusive ressaltam figuras dos mitos e dos ritos. É  
ceramistas mais novas que inclusive ressaltam figuras dos mitos e dos ritos. É  
muito comum encontrar as bonecas Karajá em lojas de artesanato ou nos museus das  
muito comum encontrar as bonecas Karajá em lojas de artesanato ou nos museus das  
cidades.</P>
cidades.
<P>A plumária é muito elaborada, tendo uma relação direta com os rituais. Com a  
 
A plumária é muito elaborada, tendo uma relação direta com os rituais. Com a  
dificuldade de captura de araras, ave de grande interesse para os Karajá, esta  
dificuldade de captura de araras, ave de grande interesse para os Karajá, esta  
arte tem sido reduzida na sua variedade, permanecendo apenas alguns enfeites,  
arte tem sido reduzida na sua variedade, permanecendo apenas alguns enfeites,  
como o <I>lori lori </I>e o <I>aheto</I>, muito usados no ritual de iniciação  
como o <I>lori lori </I>e o <I>aheto</I>, muito usados no ritual de iniciação  
dos meninos.</P>
dos meninos.
<P>
 
<P></P>
==Cosmologia, mitos e ritos==
<P><SPAN class=chamada><B>Cosmologia, mitos e ritos.</B> </SPAN>O mito de origem  
[[File:ritualkaraja.jpg|right|Ritual Karajá]]
dos Karajá conta que eles moravam numa aldeia, no fundo do rio, onde viviam e  
 
O mito de origem dos Karajá conta que eles moravam numa aldeia, no fundo do rio, onde viviam e  
formavam a comunidade dos <I>Berahatxi Mahadu</I>, ou povo do fundo das águas.  
formavam a comunidade dos <I>Berahatxi Mahadu</I>, ou povo do fundo das águas.  
Satisfeitos e gordos, habitavam um espaço restrito e frio. Interessado em  
Satisfeitos e gordos, habitavam um espaço restrito e frio. Interessado em  
Linha 341: Linha 382:
eles, conheceram os peixes e muitas coisas boas do Araguaia. Depois de muitas  
eles, conheceram os peixes e muitas coisas boas do Araguaia. Depois de muitas  
peripécias, o herói casou-se com uma moça Karajá e foi morar na aldeia do céu,  
peripécias, o herói casou-se com uma moça Karajá e foi morar na aldeia do céu,  
cujo povo, os <I>Biu Mahadu</I>, ensinou os Karajá a fazer roças.</P>
cujo povo, os <I>Biu Mahadu</I>, ensinou os Karajá a fazer roças.
<P>Existe uma correspondência simbólica entre a distribuição vertical dos  
 
Existe uma correspondência simbólica entre a distribuição vertical dos  
referidos povos míticos e as atuais aldeias Karajá ao longo do vale do rio  
referidos povos míticos e as atuais aldeias Karajá ao longo do vale do rio  
Araguaia. Os Xambioá são os <I>Iraru Mahadu</I>, o Povo de Baixo, ao norte do  
Araguaia. Os Xambioá são os <I>Iraru Mahadu</I>, o Povo de Baixo, ao norte do  
Linha 353: Linha 395:
imaginarmos estas duas retas paralelas de casas cortadas por duas transversais,  
imaginarmos estas duas retas paralelas de casas cortadas por duas transversais,  
formam-se três segmentos: as casas de cima (rio acima), as casas do meio e as  
formam-se três segmentos: as casas de cima (rio acima), as casas do meio e as  
casas de baixo (rio abaixo).</P>
casas de baixo (rio abaixo).
<P>No ritual de iniciação masculina, conhecido como <I>Hetohoky</I> ou Casa  
 
No ritual de iniciação masculina, conhecido como <I>Hetohoky</I> ou Casa  
Grande, os homens também se dividem em homens de cima, homens de baixo e homens  
Grande, os homens também se dividem em homens de cima, homens de baixo e homens  
do meio e, na disposição espacial das casas rituais, igualmente tem-se a casa  
do meio e, na disposição espacial das casas rituais, igualmente tem-se a casa  
Linha 361: Linha 404:
razão de ser nesse ou naquele local com relação ao Araguaia, assim como a  
razão de ser nesse ou naquele local com relação ao Araguaia, assim como a  
disposição das casas de moradia, dos cemitérios, das casas rituais, segundo um  
disposição das casas de moradia, dos cemitérios, das casas rituais, segundo um  
simbolismo próprio à cultura Karajá.</P>
simbolismo próprio à cultura Karajá.
<P>Os mitos abordam temas muito variados como: a origem, o extermínio e o  
 
Os mitos abordam temas muito variados como: a origem, o extermínio e o  
recomeço dos Karajá, a origem da agricultura, o veado e o fumo, a origem da  
recomeço dos Karajá, a origem da agricultura, o veado e o fumo, a origem da  
chuva, a origem do sol e da lua, o mito de origem dos Aruanãs, as mulheres  
chuva, a origem do sol e da lua, o mito de origem dos Aruanãs, as mulheres  
Linha 368: Linha 412:
mitos estão associados aos rituais e a temas sociais, como o papel dos gêneros,  
mitos estão associados aos rituais e a temas sociais, como o papel dos gêneros,  
o casamento, o xamanismo e o poder político, as doenças e a morte, o parentesco,  
o casamento, o xamanismo e o poder político, as doenças e a morte, o parentesco,  
as plantações, as pescarias e o contato com os brancos.</P>
as plantações, as pescarias e o contato com os brancos.
<P>A estrutura ritual dos Karajá tem dois grandes rituais como referências: o  
 
rito de iniciação masculina, o <I>Hetohoky</I>, e a Festa de Aruanã, que  
A estrutura ritual dos Karajá tem dois grandes rituais como referências: o  
rito de iniciação masculina, o ''Hetohoky'', e a Festa de Aruanã, que  
apresentam ciclos anuais, baseando-se na subida e descida do rio Araguaia. Entre  
apresentam ciclos anuais, baseando-se na subida e descida do rio Araguaia. Entre  
outros pequenos ritos, podem ser citados a pescaria coletiva de timbó, a festa  
outros pequenos ritos, podem ser citados a pescaria coletiva de timbó, a festa  
do mel, a festa do peixe, além de inúmeras outros inclusos nos grandes rituais  
do mel, a festa do peixe, além de inúmeras outros inclusos nos grandes rituais  
dos Aruanãs e do <I>Hetohoky</I>.</P>
dos Aruanãs e do ''Hetohoky''.
<P>
 
<P></P>
==Aspectos contemporâneos==
<P><SPAN class=chamada><B>Aspectos contemporâneos. </B></SPAN>O sub-grupo Karajá  
O sub-grupo Karajá tem tentado exercer sua cidadania por meio de organização em associações &#8212; entre as quais se destacam a "Associação da Aldeia de Santa Isabel do Morro" (TO) e a  
tem tentado exercer sua cidadania por meio de organização em associações &#8212; entre  
"Associação da Aldeia Karajá de Aruanã" (GO) &#8212; que buscam atender às necessidades das aldeias, como educação, saúde, projetos alternativos de subsistência (criação de peixes, granja, barqueiros) e participação política.
as quais se destacam a "Associação da Aldeia de Santa Isabel do Morro" (TO) e a  
 
"Associação da Aldeia Karajá de Aruanã" (GO) &#8212; que buscam atender às  
Em 1991, em convênio com a Universidade Federal de Goiás e Funai, o governo  
necessidades das aldeias, como educação, saúde, projetos alternativos de  
subsistência (criação de peixes, granja, barqueiros) e participação  
política.</P>
<P>Em 1991, em convênio com a Universidade Federal de Goiás e Funai, o governo  
do estado do Tocantins estabeleceu um programa de educação indígena, que  
do estado do Tocantins estabeleceu um programa de educação indígena, que  
incluiu, entre outros grupos, os Karajá. Tal projeto atende a cinco escolas  
incluiu, entre outros grupos, os Karajá. Tal projeto atende a cinco escolas  
Karajá na ilha do Bananal com 23 professores e 425 alunos; cinco escolas Javaé  
Karajá na ilha do Bananal com 23 professores e 425 alunos; cinco escolas Javaé  
com dez professores e 175 alunos e finalmente duas escolas Xambioá com quatro  
com dez professores e 175 alunos e finalmente duas escolas Xambioá com quatro  
professores e 85 alunos.</P>
professores e 85 alunos.
<P>Alguns Karajá já têm tido acesso às escolas agrícolas (um formado e outros  
 
Alguns Karajá já têm tido acesso às escolas agrícolas (um formado e outros  
três em formação), ensino de segundo grau e faculdades. O primeiro e segundo  
três em formação), ensino de segundo grau e faculdades. O primeiro e segundo  
graus geralmente são cursados na cidade de São Félix do Araguaia (GO) por ser  
graus geralmente são cursados na cidade de São Félix do Araguaia (GO) por ser  
Linha 413: Linha 455:
com que se volte a pressionar pela retomada das construções da BR- 242 e a  
com que se volte a pressionar pela retomada das construções da BR- 242 e a  
antiga GO-262, que cortam a ilha do Bananal, de modo a ligar os municípios do  
antiga GO-262, que cortam a ilha do Bananal, de modo a ligar os municípios do  
leste da ilha com o médio Araguaia (FADESP, 1999: 284 e 392-3). </P>
leste da ilha com o médio Araguaia (FADESP, 1999: 284 e 392-3).  
<P>A grande maioria dos Karajá são eleitores na cidades ribeirinhas; Iwyraro  
 
A grande maioria dos Karajá são eleitores na cidades ribeirinhas; Iwyraro  
Karajá foi vereador da cidade de São Félix do Araguaia e Carlos Karajá, da  
Karajá foi vereador da cidade de São Félix do Araguaia e Carlos Karajá, da  
cidade de Luciara.</P>
cidade de Luciara.
<P>Entre os principais problemas de saúde que afetam os Karajá relacionam-se os  
 
Entre os principais problemas de saúde que afetam os Karajá relacionam-se os  
efeitos nocivos da bebida alcóolica, tuberculose, sub-nutrição, considerável  
efeitos nocivos da bebida alcóolica, tuberculose, sub-nutrição, considerável  
índice de mortalidade infantil, malária e às vezes problemas de natureza mental.  
índice de mortalidade infantil, malária e às vezes problemas de natureza mental.  
A FUNASA, órgão ligado a Fundação Nacional da Saúde, é que coordena todas as  
A FUNASA, órgão ligado a Fundação Nacional da Saúde, é que coordena todas as  
ações de prevenção e de tratamento da saúde. </P>
ações de prevenção e de tratamento da saúde.
<P>Os Karajá se espelharam na Funai para se beneficiarem do pagamento de  
 
Os Karajá se espelharam na Funai para se beneficiarem do pagamento de  
arrendamento das pastagens naturais do Parque Indígena da Araguaia para os  
arrendamento das pastagens naturais do Parque Indígena da Araguaia para os  
rebanhos bovinos de fazendeiros do entorno da ilha do Bananal. Considerada  
rebanhos bovinos de fazendeiros do entorno da ilha do Bananal. Considerada  
ilegal, a Funai cessou a cobrança, mas os Karajá continuaram. Com a desocupação  
ilegal, a Funai cessou a cobrança, mas os Karajá continuaram. Com a desocupação  
do gado determinada pela Justiça Federal, tal prática tende a se extinguir.</P>
do gado determinada pela Justiça Federal, tal prática tende a se extinguir.
<P>
 
<P></P>
==Nota sobre as fontes==
<P><SPAN class=chamada><B>Nota sobre as fontes.</B></SPAN><B> </B>As referências  
As referências sobre os Karajá somam aproximadamente 900 títulos (860 dos quais constam na  
sobre os Karajá somam aproximadamente 900 títulos (860 dos quais constam na  
conhecida ''Bibliografia Crítica da Etnologia Brasileira'', de Herbert  
conhecida <I>Bibliografia Crítica da Etnologia Brasileira</I>, de Herbert  
Baldus), uma vez que, devido à facilidade de navegação do rio Araguaia no tempo  
Baldus), uma vez que, devido à facilidade de navegação do rio Araguaia no tempo  
das cheias, foram muito visitados por jornalistas, viajantes, missões, agências  
das cheias, foram muito visitados por jornalistas, viajantes, missões, agências  
governamentais, fotógrafos e pesquisadores.</P>
governamentais, fotógrafos e pesquisadores.
<P>Entre os textos etnográficos mais antigos se conta a rica descrição de Paul  
 
Entre os textos etnográficos mais antigos se conta a rica descrição de Paul  
Ehrenreich, que visitou os Karajá em 1888, depois de ter participado da segunda  
Ehrenreich, que visitou os Karajá em 1888, depois de ter participado da segunda  
viagem de Karl von den Steinen ao alto Xingu. Lançado em Berlim em 1891, seu  
viagem de Karl von den Steinen ao alto Xingu. Lançado em Berlim em 1891, seu  
Linha 448: Linha 493:
dedicava nessa época ao estudos dos Tapirapé, nas suas passagens pelo Araguaia  
dedicava nessa época ao estudos dos Tapirapé, nas suas passagens pelo Araguaia  
visitou os Karajá em 1935 e 1947, e escreveu três artigos que incluem dados que  
visitou os Karajá em 1935 e 1947, e escreveu três artigos que incluem dados que  
colheu entre eles: "Mitologia Karajá e Tereno", onde os mitos dos primeiros  
colheu entre eles: ''Mitologia Karajá e Tereno'', onde os mitos dos primeiros  
ocupam a maior parte do trabalho; "A mudança de cultura entre os índios do  
ocupam a maior parte do trabalho; "A mudança de cultura entre os índios do  
Brasil"; e "Tribos da bacia do Araguaia e o Serviço de Proteção aos Índios".</P>
Brasil"; e "Tribos da bacia do Araguaia e o Serviço de Proteção aos Índios".
<P>Nas décadas de 20 e 30 do século XX, várias expedições paulistas, incluindo  
 
Nas décadas de 20 e 30 do século XX, várias expedições paulistas, incluindo  
jornalistas, fotógrafos e exploradores, viajam pelo rio Araguaia em busca da  
jornalistas, fotógrafos e exploradores, viajam pelo rio Araguaia em busca da  
serra do Roncador e os Karajá são muitos visitados e noticiados. Em 1954, o  
serra do Roncador e os Karajá são muitos visitados e noticiados. Em 1954, o  
arqueólogo Mário Ferreira Simões estuda as ceramistas da aldeias Karajá e os  
arqueólogo Mário Ferreira Simões estuda as ceramistas da aldeias Karajá e os  
resultados estão em <I>Cerâmica Karaja e Outras Notas Etnográficas</I>
resultados estão em ''Cerâmica Karaja'' e Outras Notas Etnográficas  
(1992).</P>
(1992)
<P>As etnografias modernas iniciam-se com a tese de livre docência de Maria
 
Heloísa Costa Fénelon sobre a arte e o artista Karajá em 1968. Edna Luiza
==Referências Externas==
Taveira de Melo publica, em 1982, a sua tese de mestrado <I>Etnografia da Cesta
*[http://www.socioambiental.org.br Socioambiental]
Karajá</I>. No mesmo ano, George R. Donahue Junior defende a sua tese de
*[http://www.funai.org Funai - Fundação Nacional do Índio]
doutorado pela Universidade da Virginia, oferecendo uma visão geral dos Karajá.
*[http://www.ideti.org.br Tradições Indígenas]
Em 1987, a antropóloga francesa Nathalie Petesch apresenta uma proposta de
 
classificação dos Karajá no quadro etnológico do Brasil Central e, no ano de
==Fontes==
1991, Manuel Ferreira Lima Filho conclui sua tese de mestrado pela Universidade
Instituto Socioambiental.
de Brasília sobre o rito de iniciação dos meninos Karajá. Depois, registram-se
Manuel Ferreira Lima Filho
ainda três importantes teses sobre os Karajá: o mestrado de André Amaral de
Universidade Católica de Goiás
Toral (1992) pelo Museu Nacional, com uma etnografia mais ampla sobre os Karajá;
 
o doutorado de Nathalie Petesch pela Universidade de Paris X no mesmo ano; e o
<!--
mestrado de Patrícia de Mendonça Rodrigues, que estudou o gênero entre os Javaé,
--LINK ABAIXO: SISTEMA DE DETECÇÃO DE INVASORES - NÃO ALTERAR, NÃO ACESSAR
pela UnB, em 1993.</P>
--Inserido por Daniel Brooke Peig www.danbp.org
<P>É importante ressaltar ainda as considerações antropológicas sobre os efeitos
-->
da construção da Hidrovia Tocantins-Araguaia para os Karajá contida no relatório
<div style="display: none;">[http://www.carajas.com/wiki/liftvast.php jealous-rhythm]</div>
da FADESP de outubro de 1999.</P><B><A
href="http://www.socioambiental.org/website/povind/fontinfo/povos/povosk.html#karaja"><SPAN
class=chamada>Fontes de Informação</SPAN></A></B>
<H1> </H1>
<FONT
color=#000000>Habitantes seculares das margens do rio Araguaia nos estados de
Goiás, Tocantins e Mato Grosso, os Karajá que vivem hoje distribuídos em aldeias
têm uma longa convivência com a Sociedade Nacional o que no entanto, não os
impediu em manter costumes tradicionais do grupo como: a língua nativa, as
bonecas de cerâmica, as pescarias familiares, os rituais como a Festa de Aruanã
e da Casa Grande (Hetohoky), os enfeites plumários, a cestaria e artesanato em
madeira e ainda as pinturas corporais, como os característicos dois círculos na
face. Ao mesmo tempo, buscam a convivência temporária nas cidades para adquirir
meios de reivindicar seus direitos como a demarcação e manutenção de suas
terras, o acesso à saúde e educação bilingüe. </FONT></DIV>
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<DIV class=credito id=Layer8
style="Z-INDEX: 47; LEFT: 216px; WIDTH: 386px; POSITION: absolute; TOP: 355px; HEIGHT: 23px"><FONT
color=#000000>Maurehy Karajá e seu neto. Aldeia Aruanã, GO. <BR>Foto: Antonio
Ribeiro - Editora Abril/1987. </FONT></DIV>
<DIV class=credito id=Layer10
style="Z-INDEX: 48; LEFT: 2px; WIDTH: 185px; POSITION: absolute; TOP: 4373px; HEIGHT: 135px">
<P>1ª) Cacique Karajá Wataú, <BR>Aldeia de Santa Isabel do Morro. Foto: Museu do
Índio/s.d.. <BR>2ª) Ritual Karajá. <BR>Aldeia de Santa Isabel.<BR>Foto: Correio
Brasiliense/1978 <BR>3ª) Casamento Karajá, <BR>rio Araguaia.<BR>4ª) Dança dos
Aruanãs, <BR>rio Araguaia.</P>
<P> </P>
<P> </P>
<P>&nbsp;</P></DIV>
<DIV class=credito id=Layer11
style="Z-INDEX: 49; LEFT: 2px; WIDTH: 187px; POSITION: absolute; TOP: 5860px; HEIGHT: 144px">A
primeira iniciação dos meninos Karajá se dá por volta dos 7-8 anos de idade.
Consiste na perfuração do lábio inferior, que irá receber um adorno. A
perfuração é feita com a clavícula de um macaco, e se dá na presença dos pais.
<BR>Fotos: Claudia Andujar/s.d.</DIV>
<DIV class=credito id=Layer12
style="Z-INDEX: 50; LEFT: 3px; WIDTH: 185px; POSITION: absolute; TOP: 9726px; HEIGHT: 72px">
<P>A tatuagem facial serve de marca tribal, e faz parte da segunda iniciação,
por volta dos 11 anos. O xamã marca dois círculos, corta com uma concha e seca o
sangue com carvão. <BR>Fotos: Claudia Andujar/s.d. (1 e 2) e Vladimir
Kozak<BR>Museu Paranaense/s.d.</P></DIV>
<DIV class=credito id=Layer13
style="Z-INDEX: 51; LEFT: 16px; WIDTH: 172px; POSITION: absolute; TOP: 6568px; HEIGHT: 89px">Ceramista
Karajá. <BR>Foto: Vladimir Kozak<BR>Museu Paranaense/s.d.</DIV>
<DIV class=credito id=Layer14
style="Z-INDEX: 52; LEFT: 12px; WIDTH: 176px; POSITION: absolute; TOP: 10789px; HEIGHT: 65px">1ª)
Posse de Konini na direção do Parque do Araguaia. As aldeias Karajá serviram,
por diversos momentos, como palco de visitação de autoridades federais
interessadas em ganhar visibilidade junto aos índios. <BR>Foto: Pedro José
Empresa Brasileira de Notícias/s.d.<BR>2ª) Aldeia Macaúba, Aruanã, <BR>Ilha do
Bananal. <BR>Foto: Walter Sanchez, 1986</DIV>
<DIV class=credito id=Layer15
style="Z-INDEX: 53; LEFT: 12px; WIDTH: 175px; POSITION: absolute; TOP: 11828px; HEIGHT: 29px">Índio
Karajá. <BR>Foto: Claudia Andujar/s.d.</DIV><A name=link_fim></A>

Edição atual tal como às 10h36min de 15 de julho de 2024

Habitantes seculares das margens do rio Araguaia nos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso, os Karajá que vivem hoje distribuídos em aldeias têm uma longa convivência com a Sociedade Nacional o que no entanto, não os impediu em manter costumes tradicionais do grupo como: a língua nativa, as bonecas de cerâmica, as pescarias familiares, os rituais como a Festa de Aruanã e da Casa Grande (Hetohoky), os enfeites plumários, a cestaria e artesanato em madeira e ainda as pinturas corporais, como os característicos dois círculos na face. Ao mesmo tempo, buscam a convivência temporária nas cidades para adquirir meios de reivindicar seus direitos como a demarcação e manutenção de suas terras, o acesso à saúde e educação bilingüe.


O nome deste povo na própria língua é Iny, ou seja, "nós". O nome Karajá não é a auto-denominação original. É um nome tupi que se aproxima do significado de "macaco grande". As primeiras fontes do século XVI e XVII, embora incertas, já apresentavam as grafias "Caraiaúnas" ou " Carajaúna". Ehrenreich, em 1888, propôs a grafia Carajahí, mas Krause, em 1908, desfaz as confusões de nomes e consagra a grafia Karajá.



Indios Karajá
Fatos Rápidos
Onde Estão Goiás, Mato Grosso, Pará e Tocantins
números atuais 2500
Terras Parque Indigena do Araguia
Cidade com Reserva Aruanã em Goiás
Contato com civilização branca 200 anos

Características

- O povo Iny é o povo das águas.

- O rio Araguaia é sua origem e território. Toda vida está ligada ao rio: o mito de criação, rituais de passagem, o alimento e a alegria.

- Os dois círculos tatuados nas maçãs do rosto - o omarura - dão identidade ao povo Karajá. As pinturas em negro e vermelho desenham no corpo as formas da natureza, dos peixes e cobras.

- Os adornos em penas rosa, vermelha, azul e branca contam histórias antigas. As cerimônias trazem para o pátio da aldeia os heróis criadores, os ancestrais e os seres mágicos que compartilham com o povo a celebração da vida.

Língua.

Segundo o lingüista Aryon dall’Igna Rodrigues, a família Karajá, pertencente ao tronco lingüístico Macro-Jê, se divide em três línguas: Karajá, Javaé e Xambioá. Cada uma delas tem formas diferenciadas de falar de acordo com o sexo do falante. Apesar destas diferenças, todos se entendem. Em algumas aldeias como em Xambioá (TO) e em Aruanã (GO), devido ao processo do contato com a sociedade nacional, o português tem sido dominante.

No início da década de 1970, a FUNAI adotou um programa educacional bilíngüe e bicultural para alguns grupos, entre eles, os Karajá. Este programa, sob a orientação do Summer Institute of Linguistics, entidade que tem também objetivos religiosos, resultou na tradução da Bíblia na língua Karajá.

Localização

Região Indios Karajá
Região Indios Karajá

Os Karajá têm o rio Araguaia como um eixo de referência mitológica e social. O território do grupo é definido por uma extensa faixa do vale do rio Araguaia, inclusive a maior ilha fluvial do mundo, a do Bananal, que mede cerca de dois milhões de hectares. Suas 29 aldeias estão preferencialmente próximas aos lagos e afluentes do rio Araguaia e do rio Javaés, assim como no interior da ilha do Bananal. Cada aldeia estabelece um território específico de pesca, caça e práticas rituais demarcando internamente espaços culturais conhecidos por todo o grupo.

Isto mostra uma grande mobilidade dos Karajá que apresentam como uma de suas feições culturais a exploração dos recursos alimentares do rio Araguaia. Eles têm, ainda hoje, o costume de acampar com suas famílias em busca de melhores pontos de pesca de peixes e de tartarugas, nos lagos, nas praias e nos tributários do rio, onde, no passado, faziam aldeias temporárias, inclusive com a realização de festas, na época da estiagem do Araguaia. Com a chegada das chuvas, mudavam-se para as aldeias construídas nos grandes barrancos, a salvo das subidas das águas, onde, em alguns lugares, ainda hoje fazem suas roças familiares e coletivas, locais de moradia e cemitérios. Pode-se ter uma idéia dos números populacionais do grupo a partir dos seguintes anos e dados:

População Karajá

Ano

Fonte

Karajá

Javaé

Xambioá

TOTAL

---

815

795

1.406

1.588

1.900

±1.500

---

---

---

---

---

750

±841

---

---

---

---

---

250

202

7 a 8 mil

---

---

---

---

2.900

±2.593

1775

1908

1939

1980

1990

1995

1997

Fonseca, 1920

Krause, 1908: 238

Lipkind, 1948: 180

Toral, 1992: 27

Toral, 1992: 41

ISA, 1996: vii

Braggio, 1997

Apesar do contato intenso com a sociedade nacional, tem-se registrado um aumento populacional dos Karajá, que continuam residindo no território tradicional. As aldeias de cada subgrupo estão distribuídas da seguinte maneira:

O subgrupo Karajá é formado pela comunidade de Aruanã (GO) que tem aproximadamente 50 pessoas (dados mais recentes indicam que esta aldeia recebeu mais alguns Karajá motivados pela demarcação da terra, totalizando aproximadamente 70 pessoas), pelas aldeias Santa Isabel do Morro, Fontoura, Macacúba e São Raimundo, no oeste da ilha do Bananal, por aldeias menores como São Domingos e também duas aldeias pequenas próximas ao rio Tapirapé, além de pequenos grupos depois da ponta norte da ilha, totalizando aproximadamente 1.500 pessoas (Braggio, 1997).

O subgrupo Javaé, nas margens do rio Javáes (braço do Araguaia que contorna a margem oriental da ilha do Bananal) e no interior da ilha, tem por volta de 841 pessoas, distribuídas em seis comunidades nos municípios de Formoso do Araguaia, Cristalândia e Araguaçu (Braggio, 1997).

O subgrupo Xambioá tem duas aldeias com 202 indivíduos (Braggio, 1997), no baixo Araguaia.

História do contato

Cacique Watau
Cacique Watau

Os estudos históricos informam que os Karajá estiveram em disputa com outros povos indígenas como os Kayapó, os Tapirapé, os Xavante, os Avá-Canoeiro e, menos freqüentemente, com os Bororo e Apinayé, no intuito de salvaguardar seu território. Como resultado deste contato, houve a troca de práticas culturais entre os Karajá, os Tapirapé e os Xikrin (Kayapó).

Com relação ao contato com a sociedade nacional, os textos históricos informam ter havido duas frentes de contato com a sociedade nacional. A primeira é representada pela missões jesuítas da Província do Pará, assinalando a presença do Padre Tomé Ribeiro em 1658, que se encontrou com os Karajá do baixo Araguaia, provavelmente os Xambioá (ou os Karajá do Norte, como preferem ser chamados). A segunda frente de contato está relacionada com as bandeiras paulistas rumo ao Centro-Oeste e Norte do Brasil, como a expedição de Antônio Pires de Campos, que se estima ter ocorrido entre os anos de 1718 a 1746. A partir destas, várias outras expedições visitaram os Karajá ao longo dos anos e estes foram obrigados a manter um contato constante com a nossa sociedade. Suas aldeias foram alvos fáceis de inúmeras frentes religiosas, planos governamentais, visitas de presidentes da República como Getulio Vargas (1940) e Juscelino Kubistchek (1960), construção de um hotel de turismo luxuoso e inúmeras visitas de pesquisadores, escritores e jornalistas que retornavam as suas cidades com objetos culturais, como artefatos plumários, remos e as características bonecas de barro feitas pelas mulheres, como é o caso do etnográfo alemão Fritz Krause (1908), do etnográfo norte-americano William Lipkind (1938), do escritor José Mauro de Vasconcelos (década de 60) e dos governadores de Goiás, Henrique Santillo (1988) e do Tocantins, Siqueira Campos (1989).

O processo de contato permanente dos Karajá com a sociedade nacional fez com que eles adotassem bens culturais da sociedade envolvente (alimentação, língua, hábitos, ensino, religião entre outros). A complexidade cultural do grupo é invisível aos olhos não-índios quando, num primeiro momento, se deparam com as marcas do sofrimento impostas pelo contato: a tuberculose, o alcoolismo e a subnutrição, que aumentam a discriminação dos regionais e da população urbana. Entretanto, os Karajá demonstram força de resistência, ao manter suas principais categorias culturais que os habilitam a negociar este mesmo contato e ao fazer permanecer viva a sua organização cultural e social, a sua identidade indígena, sem abrir mão da cidadania brasileira, participando inclusive como vereadores de cidades ribeirinhas.

Ciclo de vida

O nascimento de uma criança entre os Karajá é marcado socialmente pela regra da tecnonímia, isto é, quando os pais deixam de ser chamados pelos nomes próprios e passam a ser conhecidos como o pai ou a mãe de fulano(a). No caso do homem, o novo pai passa para uma outra categoria masculina. O homem é tido como o responsável pela fecundação, sendo necessário copular várias vezes para, de forma gradual, formar a criança no ventre da mãe, considerada apenas como receptora. Após o nascimento, o recém-nascido é lavado com água morna e pintado de urucum.

Na infância, a criança fica a maior parte do tempo com a mãe e avós. Entretanto, a diferença entre os gêneros ganha maior proporção quando o menino chega à idade de sete a oito anos e tem o lábio inferior perfurado com osso de guariba. Depois, ao alcançar a faixa entre dez a doze anos de idade, o menino passa por uma grande festa de iniciação masculina denominada Hetohoky ou Casa Grande. Eles são pintados com o preto azulado do jenipapo e ficam confinados durante sete dias numa casa ritual chamada de Casa Grande. Os cabelos são cortados e ele é chamado de jyre ou ariranha.

Na primeira menstruação, a moça passa a ser vigiada pela avó materna, ficando isolada. A sua aparição pública, quando está bem enfeitada com pinturas corporais e enfeites plumários para dançar com os Aruanãs, é muita prestigiada pelos homens.

O casamento ideal é aquele arranjado pelas avós dos nubentes, preferencialmente da mesma aldeia, quando os jovens estão aptos a ter relações sexuais. Porém, o casamento mais comum é a simples ida do rapaz para a casa da moça, o que pode ser precipitado se algum parente masculino, da parte dela, surpreende algum encontro do casal às escondidas. O homem, uma vez casado, passa a morar na casa da mãe da esposa, seguindo a regra matrilocal. Quando a família se torna numerosa, o casal faz uma casa própria, mas anexa àquela de onde saiu, caracterizando espacialmente a família extensa. Assim, a mulher mais velha assume um papel central na unidade doméstica, enquanto o homem, com a idade, vai perdendo o prestígio político na praça dos homens, mas se tornando, em compensação, referência de poder espiritual, normalmente exercendo atividades xamanísticas.

No enterro Karajá, o morto é colocado com seus pertences numa esteira no fundo de uma vala; tudo é coberto por varas, lembrando uma casa, na frente do que se coloca uma espécie de pequeno mastro de madeira enfeitado. Outrora se fazia também o enterro secundário, hoje não mais realizado, que consistia em exumar o corpo e colocar os ossos numa vasilha de cerâmica, especialmente preparada pelas parentas do morto.

Homens e mulheres

Os Karajá estabelecem uma grande divisão social entre os gêneros definindo socialmente os papéis dos homens e mulheres, previstos nos mitos.

Aos homens cabem a defesa do território, a abertura das roças, as pescarias familiares ou coletivas, as construções das casas de moradia, as discussões políticas formalizadas na Casa de Aruanã ou praça dos homens, a negociação com a sociedade nacional e a condução das principais atividades rituais, já que eles equivalem simbolicamente à importante categoria dos mortos.

As mulheres são responsáveis pela educação dos filhos até a idade da iniciação para os meninos e de modo permanente para as meninas, pelos afazeres domésticos, como cozinhar, colher produtos da roça, pelo cuidado com o casamento dos filhos, normalmente gerenciado pela avós, pela confecção das bonecas de cerâmica, que se tornaram uma importante renda familiar fomentada pelo contato, além da pintura e ornamentação das crianças, das moças e dos homens para os rituais do grupo. No plano ritual, elas são as responsáveis pelo preparo dos alimentos das principais festas e pela memória afetiva da aldeia, que é expressa por meio de choros rituais, de modo especial quando alguém fica doente ou morre.

Os Karajá preferem a monogamia e o divórcio é censurado pelo grupo. Se a infidelidade do homem casado se torna pública, os parentes masculinos da mulher abandonada batem no homem infrator perante toda a aldeia, numa grande ação dramática, que pode tomar proporções maiores com o acirramento de ânimos entre os grupos domésticos envolvidos, resultando inclusive em queima da casa da família do marido infrator. As mulheres de vida sexual pública, uma vez casadas e com suas unidades domésticas próprias, deixam de receber comentários reprovadores da comunidade, já que a constituição da família é um referencial cultural importante para os Karajá.

A aldeia

A aldeia é a unidade básica de organização social e política. O poder de decisão é exercido por membros masculinos das famílias extensas, que discutem suas posições na Casa de Aruanã. Não é raro haver rivalidades entre facções de grupos masculinos em disputa pelo poder político da aldeia. Com o contato, um dos homens é eleito "capitão" da aldeia e é responsável pelos assuntos políticos com os agentes externos, como Funai, universidades, ONGs, governos estaduais, entre outros.

Os Karajá têm ainda uma intrigante chefia que, no passado, parece ter tido duas funções: a ritual e a social. Uma criança, do sexo masculino ou feminino, era escolhida pelo chefe ritual, dentre aquelas a ele ligadas por linha paterna, para ser educada como sua sucessora. Tanto o chefe ritual quanto a criança escolhida ainda hoje recebem as mesmas dominações indígenas de ióló e deridu.

As divergências políticas entre aldeias são também comuns, mas a manutenção de uma solidariedade entre elas, motivada no passado pelas guerras contra outras etnias e, no presente, pela reivindicação de demarcação das terras, desocupação dos posseiros e fazendeiros da ilha do Bananal, é reforçada pelos rituais que incentivam e celebram o encontro entre as aldeias.

Atividades de subsistência

A alimentação da comunidade é habitualmente a ictiofauna do rio Araguaia e dos lagos. Apreciam alguns mamíferos e demostram especial predileção na captura de araras, jaburus e colhereiros para enfeites plumários.

As roças são feitas nas matas-galeria, com a prática da coivara. Os registros etnográficos e históricos citam o cultivo do milho, da mandioca, da batata, da banana, da melancia, do cará, do amendoim e do feijão. Com as facilidades da cidade, estes produtos se reduzem hoje ao milho, banana, mandioca e melancia. Eles aproveitam também os frutos do cerrado, como o oiti e o pequi, e a coleta do mel silvestre. Às vezes, capturam reses criadas à solta na ilha do Bananal para o consumo da carne, que não é apreciada pelos mais velhos.

Arte e cultura material

Pintura Facial Karaja
Pintura Facial Karaja

A cultura material Karajá envolve técnicas de construção de casas, tecelagem de algodão, adornos plumários, artefatos de palha, madeira, minerais, concha, cabaça, córtex de árvores e cerâmica.

A pintura corporal é significativa para o grupo. Na puberdade, os jovens de ambos os sexos submetiam-se à aplicação do omarura, dois círculos tatuados nas faces onde a mistura da tinta do jenipapo com a fuligem do carvão era aplicada sobre a face sangrada pelo dente do peixe-cachorra. Hoje, devido ao preconceito da população das cidades ribeirinhas, como por exemplo São Félix do Araguaia, os jovens apenas desenham os dois círculos na época dos rituais. A pintura do corpo, realizada pelas mulheres, processa-se diferentemente nos homens, de acordo com as categorias de idade, sendo utilizado o sumo do jenipapo, a fuligem de carvão e o urucum. Alguns dos padrões mais comuns são as listas e faixas pretas nas pernas e nos braços. As mãos, os pés e as faces recebem pequeno número de padrões representativos da natureza, de modo especial, a fauna (Fénelon Costa, 1968).

A cestaria, feita tanto pelos homens como pelas mulheres, apresenta motivos trançados com o aspecto de gregas e inspirados na fauna, como partes do corpo dos animais. (Taveira, 1982).

A arte cerâmica é exclusiva das mulheres, apresentando os mais variados tipos e motivos, desde utensílios domésticos, como potes e pratos, até bonecas com temas mitológicos, rituais, da vida cotidiana e da fauna.

Motivo de grande interesse dos turistas que visitam as aldeias Karajá, de modo especial nas temporadas da praias do rio Araguaia (junho, agosto e setembro), as bonecas Karajá tornaram-se mais um meio de subsistência do grupo. Atualmente, apenas o sub-grupo Karajá fabrica as bonecas. Atividade única das mulheres, estas figuras de cerâmica tiveram no passado e ainda têm uma função lúdica para as crianças, mas também é instrumento de socialização da menina, conforme estudou Heloisa Fenélon Costa (1968), onde são modeladas dramatizações de acontecimentos da vida cotidiana. O contato imprimiu modificações quanto ao tamanho (se tornaram maiores) e ao material utilizado, como tinturas químicas. Entretanto, os motivos figurativos e padrões decorativos são mantidos pelas ceramistas mais novas que inclusive ressaltam figuras dos mitos e dos ritos. É muito comum encontrar as bonecas Karajá em lojas de artesanato ou nos museus das cidades.

A plumária é muito elaborada, tendo uma relação direta com os rituais. Com a dificuldade de captura de araras, ave de grande interesse para os Karajá, esta arte tem sido reduzida na sua variedade, permanecendo apenas alguns enfeites, como o lori lori e o aheto, muito usados no ritual de iniciação dos meninos.

Cosmologia, mitos e ritos

Ritual Karajá
Ritual Karajá

O mito de origem dos Karajá conta que eles moravam numa aldeia, no fundo do rio, onde viviam e formavam a comunidade dos Berahatxi Mahadu, ou povo do fundo das águas. Satisfeitos e gordos, habitavam um espaço restrito e frio. Interessado em conhecer a superfície, um jovem Karajá encontrou uma passagem, inysedena, lugar da mãe da gente (Toral, 1992) na ilha do Bananal. Fascinado pelas praias e riquezas do Araguaia e pela existência de muito espaço para correr e morar, o jovem reuniu outros Karajá e subiram até a superfície. Tempos depois, encontraram a morte e as doenças. Tentaram voltar, mas a passagem estava fechada, e guardada por uma grande cobra, por ordem de Koboi, chefe do povo do fundo das águas. Resolveram então se espalhar pelo Araguaia, rio acima e rio abaixo. Com Kynyxiwe, o herói mitológico que viveu entre eles, conheceram os peixes e muitas coisas boas do Araguaia. Depois de muitas peripécias, o herói casou-se com uma moça Karajá e foi morar na aldeia do céu, cujo povo, os Biu Mahadu, ensinou os Karajá a fazer roças.

Existe uma correspondência simbólica entre a distribuição vertical dos referidos povos míticos e as atuais aldeias Karajá ao longo do vale do rio Araguaia. Os Xambioá são os Iraru Mahadu, o Povo de Baixo, ao norte do Araguaia. Os Karajá da ponta sul da ilha e os de Aruanã são alguns dos representantes do Povo de Cima, ou Ibóó Mahadu, e os Javaé, segundo alguns autores, são o Povo do Meio ou Itua Mahadu (Petesch, 1986 e Rodrigues, 1993). Esta distribuição das aldeias Karajá ao longo do Araguaia tem correspondência com a distribuição das casas numa única aldeia, como Santa Isabel, por exemplo, cujas casas formam duas linhas retas paralelas. Se imaginarmos estas duas retas paralelas de casas cortadas por duas transversais, formam-se três segmentos: as casas de cima (rio acima), as casas do meio e as casas de baixo (rio abaixo).

No ritual de iniciação masculina, conhecido como Hetohoky ou Casa Grande, os homens também se dividem em homens de cima, homens de baixo e homens do meio e, na disposição espacial das casas rituais, igualmente tem-se a casa pequena (rio abaixo), a casa grande (rio acima) e casa de Aruanã, que fica sempre no meio destas. Portanto, a localização das aldeias Karajá possui uma razão de ser nesse ou naquele local com relação ao Araguaia, assim como a disposição das casas de moradia, dos cemitérios, das casas rituais, segundo um simbolismo próprio à cultura Karajá.

Os mitos abordam temas muito variados como: a origem, o extermínio e o recomeço dos Karajá, a origem da agricultura, o veado e o fumo, a origem da chuva, a origem do sol e da lua, o mito de origem dos Aruanãs, as mulheres guerreiras, a origem do homem branco, entre muitos outros. Normalmente, estes mitos estão associados aos rituais e a temas sociais, como o papel dos gêneros, o casamento, o xamanismo e o poder político, as doenças e a morte, o parentesco, as plantações, as pescarias e o contato com os brancos.

A estrutura ritual dos Karajá tem dois grandes rituais como referências: o rito de iniciação masculina, o Hetohoky, e a Festa de Aruanã, que apresentam ciclos anuais, baseando-se na subida e descida do rio Araguaia. Entre outros pequenos ritos, podem ser citados a pescaria coletiva de timbó, a festa do mel, a festa do peixe, além de inúmeras outros inclusos nos grandes rituais dos Aruanãs e do Hetohoky.

Aspectos contemporâneos

O sub-grupo Karajá tem tentado exercer sua cidadania por meio de organização em associações — entre as quais se destacam a "Associação da Aldeia de Santa Isabel do Morro" (TO) e a "Associação da Aldeia Karajá de Aruanã" (GO) — que buscam atender às necessidades das aldeias, como educação, saúde, projetos alternativos de subsistência (criação de peixes, granja, barqueiros) e participação política.

Em 1991, em convênio com a Universidade Federal de Goiás e Funai, o governo do estado do Tocantins estabeleceu um programa de educação indígena, que incluiu, entre outros grupos, os Karajá. Tal projeto atende a cinco escolas Karajá na ilha do Bananal com 23 professores e 425 alunos; cinco escolas Javaé com dez professores e 175 alunos e finalmente duas escolas Xambioá com quatro professores e 85 alunos.

Alguns Karajá já têm tido acesso às escolas agrícolas (um formado e outros três em formação), ensino de segundo grau e faculdades. O primeiro e segundo graus geralmente são cursados na cidade de São Félix do Araguaia (GO) por ser muito próxima à aldeia de Santa Isabel do Morro, ou em Aruanã, cuja escola é contígua à aldeia. Em 1998, nove membros do subgrupo Karajá passaram no vestibular da Fundação Universidade do Tocantins para os cursos de Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Agronomia e Biologia. A maioria desistiu, ficando apenas um, pois alegaram a grande distância de suas aldeias. No mesmo ano, Samuel Karajá, da Aldeia de São Domingos, bacharelou-se em Direito em Goiânia e assumiu um lugar de liderança em sua aldeia. Desta maneira, os Karajá começam a se qualificar no ensino superior para reivindicar seus direitos e intervir, por meio do Ministério Público Federal, em assuntos que lhe dizem respeito, como a demarcação de suas terras e a construção da Hidrovia Tocantins-Araguaia. O relatório dos antropólogos do EIA RIMA adverte sobre os possíveis impactos deste empreendimento: a aceleração dos processos erosivos das margens pelas ondas dos camboios, com eventuais desbarrancamentos, atingindo roças, portos, cemitérios ou outros locais de interesse histórico e religioso; a poluição sonora das embarcações em trânsito; impactos na prática dos banhos, pesca e no trânsito de pequenas embarcações dos Karajá; e ainda a alteração na qualidade da água, que deverá influir nas condições alimentares e de saúde do grupo indígena. O EIA adverte ainda que a construção da hidrovia deverá fazer com que se volte a pressionar pela retomada das construções da BR- 242 e a antiga GO-262, que cortam a ilha do Bananal, de modo a ligar os municípios do leste da ilha com o médio Araguaia (FADESP, 1999: 284 e 392-3).

A grande maioria dos Karajá são eleitores na cidades ribeirinhas; Iwyraro Karajá foi vereador da cidade de São Félix do Araguaia e Carlos Karajá, da cidade de Luciara.

Entre os principais problemas de saúde que afetam os Karajá relacionam-se os efeitos nocivos da bebida alcóolica, tuberculose, sub-nutrição, considerável índice de mortalidade infantil, malária e às vezes problemas de natureza mental. A FUNASA, órgão ligado a Fundação Nacional da Saúde, é que coordena todas as ações de prevenção e de tratamento da saúde.

Os Karajá se espelharam na Funai para se beneficiarem do pagamento de arrendamento das pastagens naturais do Parque Indígena da Araguaia para os rebanhos bovinos de fazendeiros do entorno da ilha do Bananal. Considerada ilegal, a Funai cessou a cobrança, mas os Karajá continuaram. Com a desocupação do gado determinada pela Justiça Federal, tal prática tende a se extinguir.

Nota sobre as fontes

As referências sobre os Karajá somam aproximadamente 900 títulos (860 dos quais constam na conhecida Bibliografia Crítica da Etnologia Brasileira, de Herbert Baldus), uma vez que, devido à facilidade de navegação do rio Araguaia no tempo das cheias, foram muito visitados por jornalistas, viajantes, missões, agências governamentais, fotógrafos e pesquisadores.

Entre os textos etnográficos mais antigos se conta a rica descrição de Paul Ehrenreich, que visitou os Karajá em 1888, depois de ter participado da segunda viagem de Karl von den Steinen ao alto Xingu. Lançado em Berlim em 1891, seu trabalho foi traduzido para o português por Egon Schaden e publicado com introdução e notas de Herbert Baldus em 1948, com o título "Contribuições para a Etnologia do Brasil", que se inicia com a seção dedicada a "As tribos Karajá do Araguaia (Goiás)". Depois temos a descrição bastante confiável de Fritz Krause, que viajou pelo Araguaia em 1908 e publicou "Nos sertões do Brasil". Após esses pioneiros alemães, vem o antropólogo norte-americano William Lipkind, que publicou em 1948 sua etnografia sobre os Karajá com base em trabalho de campo realizado nos anos de 1938 e 1939. Vale notar que Herbert Baldus, que se dedicava nessa época ao estudos dos Tapirapé, nas suas passagens pelo Araguaia visitou os Karajá em 1935 e 1947, e escreveu três artigos que incluem dados que colheu entre eles: Mitologia Karajá e Tereno, onde os mitos dos primeiros ocupam a maior parte do trabalho; "A mudança de cultura entre os índios do Brasil"; e "Tribos da bacia do Araguaia e o Serviço de Proteção aos Índios".

Nas décadas de 20 e 30 do século XX, várias expedições paulistas, incluindo jornalistas, fotógrafos e exploradores, viajam pelo rio Araguaia em busca da serra do Roncador e os Karajá são muitos visitados e noticiados. Em 1954, o arqueólogo Mário Ferreira Simões estuda as ceramistas da aldeias Karajá e os resultados estão em Cerâmica Karaja e Outras Notas Etnográficas (1992)

Referências Externas

Fontes

Instituto Socioambiental. Manuel Ferreira Lima Filho Universidade Católica de Goiás